O ALOJAMENTO LOCAL – Uma Lisboa de 2010 ou uma Lisboa de 2018?

Quando em 2010 abracei a Carreira de Consultor Imobiliário, fi-lo numa pequena agência imobiliária de uma grande marca cujos escritórios estavam instalados na zona da Graça em Lisboa. Por comodidade arrendei um apartamento T1 no Largo da Graça o que me permitiria “viver” a zona onde trabalhava, com maior rapidez e maior profundidade.

Uma das principais e mais importantes actividades de um Consultor Imobiliário é centrada na prospecção geográfica que implica andar na rua, bater às portas das casas e falar com as pessoas que aí habitam, trabalham e circulam.

Conhecendo mal Lisboa como conhecia na altura, escolhi as zonas envolventes à Graça com especial incidência em Alfama, Mouraria e o Martim Moniz, precisamente três das zonas com maior taxa de casas e apartamentos em Alojamento Local.

Consideramos que esse tema, tem sido largamente discutido nas redes sociais e jornais, arrastando “paixões e razões” e muito pouco discutido na sua “especialidade” isto é discutido seriamente cara a cara, com, e entre os intervenientes no assunto; habitantes, proprietários, inquilinos, comércio, profissionais do AL, utilizadores etc. Falta ao tema uma moderação séria e desinteressada, com o objectivo de ajudar as partes envolvidas a ultrapassar as diferenças e os incómodos sentidos. Caberia pois o papel de moderador à classe politica o que na realidade não acontece. As tentativas de legislação e regulação são feitas aos retalhos e muitas das iniciativas em curso são tomadas em função dos jogos políticos, esquecendo as pessoas.

Voltando a 2010 e à minha actividade de prospecção, conheci as ruas e os habitantes de Alfama, Mouraria e Martim Moniz tal e qual a forma como factualmente as vou descrever, sem juízos do certo ou errado.

  • 90% dos prédios em cada uma destas zonas encontrava-se em péssimas condições de habitabilidade, fechados ou em ruínas.
  • Os poucos habitantes destas zonas eram na sua maioria pessoas idosas ou famílias com parcos recursos que viviam num limiar de pobreza.
  • Não existia comércio e facilmente ouvia-mos dos habitantes mais idosos as queixas por não terem lojas para se abastecerem.
  • As dificuldades na circulação pedonal eram enormes, pois os pisos tortuosos e destruídos dificultavam a locomoção das pessoas mais idosas.
  • Facilmente podíamos ouvir “vivemos isolados no centro de Lisboa” “estamos abandonados à nossa sorte”.
  • A falta de iluminação nocturna atraia o comércio de droga e a prostituição o que na ausência de outros tipos de vivência se evidenciava grandemente.
  • A insegurança dos habitantes era preocupante e disso se queixavam frequentemente.
  • Sentia-se uma desertificação total e muitas das ruas mais estreitas estavam meses e meses cortadas por derrocadas de paredes e muros dos prédios abandonados.

Não vou descrever o estado destas zonas de Lisboa nos dias de hoje pois são bem conhecidas não só pelos seus habitantes mas também pelos Portugueses de Norte a Sul e Ilhas já não falando dos estrangeiros que diariamente aí habitam e circulam com caracter periódico ou permanente.

As diferenças são abissais!

O que queremos todos para Lisboa? Uma Lisboa de 2010 ou uma Lisboa de 2018? Será possível ter em 2020 uma Lisboa para todos?

Não é Lisboa uma das Capitais do Mundo? Para nós, Equipa Gameiro sim é!

Nota: O AL do interior de Portugal terá que sobreviver com as regras que se pretendem impor desde Lisboa e com base numa realidade diferente?

Francisco Freire Gameiro